Quando a mente corre na frente da terapia

Por que faz diferença um psicólogo especializado em superdotação

Heloisa Titotto

8/14/20252 min read

Ir ao psicólogo já é, por si só, um ato de coragem. Mas, para o adulto superdotado, essa experiência pode trazer um desafio extra: a velocidade e a profundidade do pensamento. Imagine marcar uma sessão, abrir o coração… e perceber que, em dez minutos, você já costurou dez temas, três paradoxos e duas soluções possíveis, enquanto o terapeuta ainda está anotando a primeira frase. A sensação pode ser de desencontro, de “não ser entendido”, e isso mina a confiança no processo.

É aí que entra a importância de um psicólogo especializado em superdotação. Não porque exista uma “terapia exclusiva”, mas porque compreender como funciona a mente superdotada muda a qualidade do encontro. O especialista sabe que não se trata apenas de “inteligência acima da média”, mas de uma forma diferente de sentir, perceber e se relacionar com o mundo.

Esse psicólogo entende, por exemplo, que intensidade emocional não é exagero; que perfeccionismo não é frescura; que questionar regras não é rebeldia gratuita. Ele reconhece que um paciente pode ter pensamentos acelerados, associações improváveis e uma sensibilidade que multiplica tanto o prazer quanto a dor. E, principalmente, ele não se assusta com isso.

Na prática clínica, isso significa acompanhar o ritmo do paciente sem banalizar sua dor. Significa poder ir fundo nas discussões existenciais, mas também respeitar quando a vulnerabilidade pede pausa. Significa oferecer ferramentas para lidar com ansiedade, trauma e relacionamentos, mas sem tentar “normalizar” o superdotado — e sim ajudá-lo a encontrar sentido na própria singularidade.

Um terapeuta sem essa bagagem pode até ser competente, mas corre o risco de interpretar mal certos sinais. O que é uma sobrecarga sensorial pode ser confundido com frescura; o que é busca por sentido pode ser lido como drama; o que é questionamento legítimo pode ser tratado como resistência. Já com um especialista, a leitura é outra: cada traço é visto dentro do contexto da neurodivergência.

É como levar um carro de Fórmula 1 para a oficina da esquina. O mecânico pode até saber muito de motores, mas aquele carro não responde do mesmo jeito que os outros. O psicólogo especializado, nesse caso, é o profissional que conhece os atalhos, os ajustes finos, e não tenta transformar o carro de corrida em um carro popular — ajuda a cuidar da máquina para que ela rode com potência e segurança.

No fim, procurar um psicólogo que conhece a superdotação não é luxo, nem elitismo. É uma escolha prática: garante que o processo terapêutico seja realmente produtivo, respeitoso e transformador. Porque, para o adulto superdotado, sentir-se compreendido não é detalhe — é o primeiro passo para finalmente poder descansar dentro da própria mente.