Nem todo especialista é especialista

Como diferenciar bons e maus profissionais quando o assunto é superdotação

Heloisa Titotto

8/14/20252 min read

Se existe um tema cheio de opiniões, títulos e promessas fáceis, esse tema é a superdotação. Basta uma busca rápida para encontrar cursos milagrosos, testes “infalíveis” online e até profissionais que se autoproclamam especialistas depois de um final de semana de workshop. Para o adulto superdotado — que já costuma ser criterioso e desconfiado — essa é uma armadilha e tanto. Afinal, como saber em quem confiar?

A primeira diferença entre bons e maus profissionais está na profundidade do conhecimento. O bom profissional estuda, pesquisa, reconhece os limites da própria área e sabe que a superdotação não é só “QI alto”. Ele entende que estamos falando de um fenômeno complexo, que envolve cognição, afetividade, neurobiologia e contexto social. Já o mau profissional reduz tudo a rótulos simplistas.

Outro ponto é a escuta. O bom profissional não se impressiona apenas com o brilho intelectual: ele olha para o ser humano inteiro, reconhece as dores, o trauma, as dificuldades emocionais e relacionais que podem vir junto com a superdotação. O mau profissional, ao contrário, ou glamouriza demais (“você é um ser iluminado”) ou patologiza sem necessidade (“isso deve ser transtorno”). Ambos os extremos são perigosos porque não ajudam a pessoa a se integrar com autenticidade.

Também vale prestar atenção no cuidado ético. Um bom profissional não promete diagnósticos instantâneos, nem soluções mágicas. Ele explica os processos com clareza, dá referências científicas, indica quando é necessário um trabalho em equipe (psicólogo, psiquiatra, neuropsicólogo). O mau profissional, por outro lado, costuma se apoiar em slogans, oferecer “pacotes rápidos” e até usar a superdotação como marketing pessoal — como se o paciente fosse um troféu a mais para exibir.

E há o detalhe que parece pequeno, mas não é: a capacidade de acompanhar o ritmo do superdotado. Bons profissionais não se perdem no turbilhão de ideias, não se assustam com perguntas profundas e não ficam defensivos diante do pensamento rápido do paciente. Maus profissionais podem reagir com insegurança, críticas ou até silenciar a experiência da pessoa, o que gera frustração e pode afastar o superdotado da busca por ajuda.

Em resumo, diferenciar bons de maus profissionais exige olhar para três coisas: conhecimento consistente, ética e capacidade de encontro verdadeiro. Bons profissionais reconhecem a singularidade sem exagerar nem minimizar; maus profissionais costumam cair no fascínio ou no julgamento.

Dá para dizer que procurar um bom profissional sobre superdotação é como escolher médico para o coração: você não quer alguém que só saiba desenhar um coraçãozinho no papel — quer alguém que entenda o órgão de verdade, com toda a sua complexidade, e que saiba cuidar dele com responsabilidade.

No fim, a boa notícia é que existem profissionais sérios, éticos e preparados. E encontrá-los pode ser a chave para transformar a superdotação de peso em potência, de isolamento em conexão, e de confusão em clareza.